Fruto de parceria entre o Governo Britânico e o Instituto Coalizão Saúde, a série de webinários Diálogos Brasil-Reino Unido em Saúde Digital: Desafios e Oportunidades em Telessaúde vai discutir questões fundamentais para a implementação e o aprimoramento da telessaúde no Brasil, além de tratar sobre como os dois países podem cooperar nessa questão.
São quatro sessões de 1h30 cada, com especialistas e lideranças brasileiras e internacionais, e divididas por temas. No dia 09 de fevereiro, a sessão 1 abordou o Uso da Telessaúde no Reino Unido e no Brasil – Uma Análise Baseada em Evidências, tendo o Vice-Presidente do ICOS, Giovanni Cerri, como mediador dos trabalhos.
O time de palestrantes foi formado pelo Presidente do Hospital Israelita Albert Einstein, Sidney Klajner; pelo Primeiro Vice-Presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Donizetti Dimer Giamberardino Filho; pelo Comissário Britânico de Sua Majestade, Spencer Mahoney; e pelas pesquisadoras da agência internacional e independente de saúde Nuffield Trust, Rachel Hutchings e Jessica Morris.
Os comentários foram do Diretor de Transformação de Saúde, Johnson & Johnson Medical Latam, Fabrício Campolina; e do Coordenador e Gerente Médico de Telemedicina, GT Telemedicina da Anahp e do Hospital Israelita Albert Einstein, Eduardo Cordioli.
Confira aqui a íntegra do painel:
O Vice-Presidente do ICOS, Giovanni Cerri, iniciou o debate ressaltando a importância do apoio oferecido pelo Governo Britânico para “ajudar a encontrar soluções, em particular, em Atenção Primária, e agora desenvolvendo um programa de telessaúde, em parceria com o Hospital das Clínicas”. “Eu acho que essa troca de informações certamente será de grande valia para nós, nos pilotos que vamos desenvolver. Sem dúvida, a telessaúde e a incorporação de novas tecnologias poderão ser um legado positivo em relação a essa experiência que estamos tendo com o coronavírus”
Antes da abertura propriamente dos trabalhos, o Comissário Britânico, Spencer Mahoney, fez alguns comentários sobre a oportunidade de unir forças com outras instituições de saúde para troca de experiências que “reforçam o aprendizado um do outro”, como colocou. Para o especialista, realizar ações em saúde é algo de extremo valor, no momento em que se torna possível ajudar pessoas e fazer diferença em suas vidas. “E se é que podemos dizer que houve algo de ‘positivo’ nesse momento, eu diria que é a aceleração tecnológica pela qual estamos passando por conta da pandemia”, ponderou
Telemedicina no Brasil
O tema da primeira sessão da série foi introduzido pelo Presidente do Hospital Israelita Albert Einstein, Sidney Klajner, que fez um apanhado geral do que o hospital vem realizando de mais importante em telessaúde.
“Às custas de uma jornada de quase oito anos nesse tema, nós vimos aumentar o acesso, especialmente no princípio do enfrentamento da pandemia, de pacientes que buscavam o atendimento em termos de Covid-19”, começou explicando Klajner. “Aqueles portadores de febre ou teste positivo e que viram na telemedicina uma forma de poder ter atendimento sem precisar sair de casa”.
Por outro lado, o Presidente do Hospital Israelita Albert Einstein conta que, num segundo momento, foi-se observando a adesão de pacientes interessados em fazer, por meio da telessaúde, o controle de suas doenças crônicas e o atendimento de urgências leves. “E não somente em São Paulo, pacientes de diversas regiões do país acessaram nosso centro de telemedicina especialmente para essa orientação virtual com busca à solução de seus problemas”.
Donizetti Dimer Giamberardino Filho começou sua fala apresentado a definição de telemedicina no entender do Conselho Federal de Medicina (CFM), como sendo uma expressão que se quer utilizar para os atos médicos. “Isso é importante colocar para que nós respeitemos as competências legais previstas em cada profissão de saúde”.
Giamberardino Filho complementou também que a telessaúde deve ser vista como uma oportunidade de melhoria de acesso por parte da população, de integração de rede, particularmente do Sistema Único de Saúde, um meio de racionalização de recursos, transferência de conhecimento e, por fim, uma chance de melhoria da qualidade da atenção à saúde. “A telemedicina veio para ficar e se apresenta de uma forma disruptiva”, resumiu.
O serviço nacional de saúde britânico
Pesquisadoras principais do Nuffield Trust, as doutoras Rachel Hutchings e Jessica Morris discorreram sobre o funcionamento do Serviço Nacional de Saúde britânico – o National Health Service (NHS).
“Olhando para trás, o que é possível destacar que a constante melhoraria do uso da tecnologia digital (incluindo consultas online) tem sido uma meta do NHS há muito tempo”, começou Rachel. “Essa estratégia, que chamamos de Future of Healthcare [futuro do cuidado em saúde, em tradução livre] foi publicada em outubro de 2018. Em janeiro de 2019, um Plano de Ação do NHS estabeleceu que, até 2023 e 2024, todos os pacientes terão direito a consultas online e a um atendimento primário digital”.
As especialistas também apresentaram um levantamento no qual 63% dos respondentes se disseram dispostos a fazer uma consulta por vídeo com seu médico (para conselhos sobre uma doença de urgência leve), 55% concordariam em fazer uma consulta de vídeo com seu médico para aconselhamento sobre um problema ou condição atual, e 43% fariam uma consulta por vídeo com seu médico para aconselhamento imediato ou de emergência.
Mais especificamente sobre a pandemia de Covid-19, Rachel e Jessica confirmaram o que já tem se apresentado como consenso no mundo todo: a crise ajudou a mudar as atitudes dos profissionais de saúde quanto ao uso da telemedicina. Com o complemento de que, segundo elas, há pesquisas que sugerem ser essa uma mudança de longo prazo. “Mas para capitalizarmos sobre isso deve-se garantir que as pessoas tenham acesso contínuo a treinamento, suporte e equipamentos”, concluiu Jessica.
Segurança digital
Ao final dos trabalhos, o comentarista Eduardo Cordioli lembrou a importância da oportunidade de se conhecer mais sobre o NHS, no qual nosso SUS foi inspirado, ressaltando o “quão adiantados eles estão nas discussões de saúde digital”.
“Como médicos, acho que todos temos o sonho de sermos onipresentes, estar o tempo inteiro ao lado do paciente. E a telemedicina permite que nós realizemos esse desejo”, disse, destacando a atuação do Hospital Israelita Albert Einstein e seu compromisso em levar “excelência em saúde para todos os brasileiros”.
Fabrício Campolina, também comentarista do painel, destacou “o pioneirismo do Hospital Israelita Albert Einstein em apontar caminhos e demonstrar que é possível ampliar o acesso sem comprometer a satisfação dos pacientes”, e a importância de democratizar os cuidados de saúde num país continental como o Brasil, ponto trazido na fala de Donizetti Dimer Giamberardino Filho.
Além disso, chamou a atenção para uma das “grandes tendências” que deveremos verificar em 2021: a importância da segurança digital. “Informações de pacientes são extremamente atrativas para criminosos digitais. Pesquisas mostram que atualmente, na América Latina, 58% das consultas em saúde privada/complementar ocorrem em plataformas populares de saúde, que não foram adequadamente preparadas para esse tipo de atendimento”, alertou.