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Por Fabricio Campolina, Senior Business Unit Director at Johnson & Johnson | Chairman of the Board of Directors at ABIMED

Em retrospectiva dos últimos 50 anos da medicina no Brasil feita recentemente pelo Dr. Drauzio Varella, ele comentou que durante este período o paciente deixou de ser o centro da atenção e razão de existir do sistema para se transformar apenas em um número. O modelo de remuneração vigente em nossa saúde suplementar, chamado de fee-for-service, ou conta-aberta, reflete exatamente isto. O sistema é remunerado pelo número de tratamentos realizados e não pelo resultado clínico proporcionado ao paciente.

Em paralelo, o envelhecimento da população acompanhado do aumento da prevalência das doenças crônicas fará que até 2030, os gastos com saúde saltem dos atuais 9.5% do PIB para cerca de 25%. Obviamente esta situação é insustentável.

A boa notícia é que solução para este desafio não só coloca o sistema de saúde em uma trajetória sustentável, mas também volta a colocar o paciente como centro e razão de existir do sistema. Estamos falando de Value Based Payment, em que a remuneração passará a ser realizada pela qualidade do resultado clínico proporcionado ao paciente dentro de custos razoáveis. Em países da Europa e Estados Unidos estamos vendo rapidamente a evolução neste sentido. No Brasil, vemos empresas líderes já avançando neste modelo. A Amil, por exemplo, declarou publicamente ter a meta de fechar 2017 com 21% de seus contratos baseados em modelos alternativos de pagamento.

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Recentemente, no evento EthiconTalks, realizado em São Paulo, tivemos um painel debatendo os impactos destes novos modelos para os profissionais de saúde. Este painel moderado pelo Ricardo Amorim, contou com participação de Denise Eloi, CEO do ICOS, Reinaldo Scheibe, Presidente da ABRAMGE e minha participação representando a indústria.

No painel comentou-se que alguns hospitais de referência têm criado planos de auto-gestão para seus funcionários e respectivos familiares. Estes planos já incorporam conceitos de Valued Based Care e constituem pilotos para que os mesmos possam estar mais preparados para negociações maiores nos próximos anos. Estes hospitais têm relatado aumento do engajamento de seus times e redução de até 27% nos custos per capita do plano de saúde em contraste com inflação médica de 15% ao ano do período. Estes resultados tem sido consequência de ações de promoção de saúde, foco na atenção primária alavancando os modelos de médicos de família.

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Enfim, esta é uma tendência que irá acontecer independente de resistências que possam surgir. A pergunta hoje em dia é quando, se avançará rapidamente nos próximos 3 anos ou se demorará ainda 10 anos para vermos esta mudança.

Em relação ao profissional de saúde, é fundamental que primeiro este tenha a ciência desta tendência e que estes, assim como todos os outros atores – indústria, hospital, operadoras de saúde –, sejam protagonistas e participem da construção desta mudança.

A educação de todos é fundamental. Nesta mudança de modelos de remuneração, haverá transferência de risco das operadoras para os outros atores. Por exemplo, na cirurgia bariátrica, se o acordo prevê que complicações acima do índice da literatura serão cobertas pelo hospital, cirurgião e indústria, tem de se ter clareza sobre os riscos assumidos e ter mecanismos para mitigá-los. Ao mesmo tempo os ganhos por melhores resultados têm de ser compartilhados com os profissionais de saúde.

A pergunta que fica é quais os principais impactos para os profissionais de saúde. Primeiro, (1) haverá busca por equipes com melhores resultados clínicos e maior eficiência operacional. Estas equipes serão mais valorizadas e aumentará a tendência por corpo clínico fechado nos hospitais com estes modelos. Segundo, (2) os modelos iniciais irão compartilhar economias geradas ou irão direcionar volume de atendimento para as equipes da casa. Terceiro, (3) haverá bem mais transparência de resultados. Quarto, (4) será importante entender riscos assumidos e ter mecanismos para mitigá-lo, como por exemplo: (a) Moral Hazard, (b) Risk Adjustment, (c) Risk Cap, (d) Risk Corridors.

Em resumo, estamos diante de uma tendência que vai transformar o Mercado e é importante envolvimento de todos para que esta mudança ocorra da melhor forma possível, para cada um dos atores e acima de tudo para o paciente.

Texto originalmente publicado no perfil de Fabricio Campolina no LinkedIn