Apesar da mudança positiva em alguns hábitos de vida, a população brasileira ainda está exposta a fatores de risco preocupantes como o consumo excessivo de álcool e o aumento exponencial da obesidade nos últimos anos.
Diante dessa situação, o Brasil deveria trabalhar em quatro alavancas principais para expandir suas ações de promoção e prevenção:
Integração de dados do paciente e identificação de perfis de risco – É necessário expandir a utilização de ferramentas analíticas para mapear grupos de risco e prevenir que suas doenças piorem (por exemplo, grupo de 10% da população que gera 44% das hospitalizações). No futuro, a detecção precoce e o acesso rápido ao atendimento contínuo mudarão a experiência do paciente.
Globalmente, os planos de saúde já utilizam ferramentas analíticas para mapear grupos de risco e prevenir que suas doenças piorem. Um exemplo é o Riskprom, uma ferramenta desenvolvida na Alemanha que permite identificar e acompanhar grupos de risco.
Uso de profissionais como “porta de entrada” (gate keepers) – Programas que utilizam enfermeiros e médicos da família como “porta de entrada” para o sistema podem diminuir a taxa de mortalidade de alguns grupos de risco em até 70%, com base em experiências internacionais.
No NHS (National Health System), sistema de saúde do Reino Unido, o uso de profissionais não-médicos para check-up viabiliza a criação de programas para detecção precoce de doenças na população. Um programa focado na população de 40-74 anos de idade, por exemplo, repetido a cada cinco anos, no qual são utilizadas ferramentas padronizadas para identificar indivíduos com risco de desenvolver determinadas doenças como diabetes, doença renal e demência. O check-up é realizado por enfermeiros ou técnicos de saúde capacitados e a consulta com o clínico geral é realizada apenas se os resultados indicarem a presença de fatores de risco ou doença. O impacto é grande: cálculos mostram que 1.600 eventos cardiovasculares (derrame e infarto) foram evitados por ano, além de 650 mortes prematuras e 4.000 novos casos de diabetes que foram detectados precocemente. Além disso, são estimadas economias na ordem de £57 milhões/ano.
Campanhas e políticas com uso de técnicas de reforço positivo – Campanhas com uso de dados e técnicas de reforço positivo, conhecidas internacionalmente como nudging1 , podem ser até 20% mais efetivas do que campanhas tradicionais.
Papel ativo do empregador – Incentivos financeiros e não financeiros para os indivíduos que praticam o cuidado com a própria saúde geram benefícios mútuos, com 20-30% de redução nas taxas de admissão e custos por paciente, de acordo com experiências internacionais.
Para se ter uma ideia do impacto dos fatores de risco, se fosse possível eliminá-los totalmente, poderia haver uma economia de aproximadamente R$ 100 bilhões/ano no tratamento de doenças crônicas, valor equivalente ao rombo das contas públicas em 2015
Trecho de capítulo retirado da publicação Coalizão Saúde Brasil – Uma agenda para transformar o sistema de saúde