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Ocasião teve palestra da ex-secretária de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, Patricia Ellen, e presença de autoridades e especialistas do setor

Como parte da programação da Feira Hospitalar 2022, que voltou a ser realizada em formato presencial este ano, o Instituto Coalizão Saúde ocupou uma das salas do pavilhão São Paulo Expo com o Fórum ICOS 2022: Saúde Digital e Sustentabilidade, que reuniu especialistas e autoridades para debaterem o futuro do setor, as tendências em cuidado na era digital e o cenário pós-pandêmico na saúde.

O encontro teve início com palestra da ex-secretária de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, Patricia Ellen, cofundadora da Aya Initiative e sócia da consultoria global Systemiq, e seguiu com a realização de dois painéis: “Saúde Digital como estratégia para a melhoria do acesso e da qualidade assistencial” e “Jornada de cuidados em saúde baseados em valor no Brasil e na América Latina: tendências e casos práticos”.

O primeiro reuniu o Vice-presidente do ICOS, Giovanni Guido Cerri, Presidente do Conselho do Inrad-FMUSP e Coordenador do NIT Núcleo de Inovação do HC; Guilherme Rabello, Gerente de Inovação, Instituto do Coração/Fundação Zerbini; Juliana Caires, Gerente Regional para América Latina em Saúde e Ciências da Vida do Consulado Britânico; e Marco Bego, Diretor Executivo do Inova HC e InRad – com moderação de Manoel Coelho Filho, executivo da Siemens Healthineers.

Com moderação de Priscilla Andrade, membro do GT VBHC do ICOS e Gerente Sênior de Economia da Saúde da Johnson & Johnson, o segundo painel contou com análises de Fabrício Campolina, Coordenador do GT VBHC do ICOS e Diretor de Transformação de Saúde Johnson & Johnson Medical LATAM; Charles Al Odeh, Chief Medical Officer na UHG; e Kelly Ildefonso, Superintendente Comercial do Hospital Sírio Libanês.

Novos padrões

Patricia Ellen iniciou sua fala chamando a atenção para a necessidade de uma abordagem sistêmica para os desafios apresentados pela saúde. “Nenhuma empresa, nenhuma organização, sozinha vai conseguir a transformação que precisa acontecer nos próximos anos”.

Num cenário de grandes transformações – e muitas delas concentradas na saúde, segundo avaliou –, a especialista e executiva reafirmou a importância de colocar o ser humano no centro do cuidado. “E nem falamos em paciente mais, porque nós precisamos tratar da saúde e não apenas da doença”.

Outra transformação é como usar a tecnologia para redução de custos e criação de um processo de aumento do acesso de forma sustentável. “E sustentável também economicamente, senão a conta não fecha”.

Atual foco de dedicação da ex-Secretária, a terceira mudança diz respeito a sustentabilidade econômica do ponto de vista ambiental. “E eu estou aqui falando de uma maneira bem prática, valor de negócio, sobre descarbonização da economia”.

“Acho que são essas três coisas, e a saúde no epicentro das transformações que estão acontecendo, que vão exigir grandes mudanças de padrão e que passam por preparar liderança, processos, organizações e as pessoas que têm acesso a esses serviços”.

Patrícia Ellen também abordou a importância de olharmos a tecnologia como ferramenta para agregar valor e humanidade ao cuidado – assunto tratado no livro A Revolução Digital na Saúde: Como a inteligência artificial e a internet das coisas tornam o cuidado mais humano, eficiente e sustentável, escrito em parceria entre Patrícia, o Presidente do ICOS Claudio Lottenberg e Sidney Klajner, Presidente do Hospital Israelita Albert Einstein.

“São essas as três mudanças de padrão que estou trazendo aqui para vocês. E mudanças de padrão levam tempo, justamente porque a gente tem que engajar sistemas. E é raro ter uma audiência composta por atores com um poder de influência tão grande nesses sistemas”.

Acesso e qualidade

A primeira fala do Painel 1 – Saúde Digital como estratégia para a melhoria do acesso e da qualidade assistencial – foi de Juliana Caires, que levantou a importância da cooperação internacional na área da saúde, se referindo à parceria com o Governo Britânico e instituições brasileiras de saúde – que se desdobrou em uma série de painéis, em 2021, e no lançamento, neste ano, da publicação Diálogos Brasil-Reino Unido em Saúde Digital: Desafios e oportunidades em Telessaúde (acesse e baixe gratuitamente aqui).

“A colaboração internacional foi e tem sido essencial para resolver muitos dos problemas que a gente encontrou [durante a pandemia] e ainda vai encontrar pela frente”, disse ao apresentar um panorama do ecossistema de saúde do Reino Unido e descrever o que o Governo Britânico tem realizado no Brasil – com direito a uma novidade: “O Ministério do Comércio Internacional [britânico] acabou de lançar uma brochura com mais de 160 empresas da área da saúde digital, que já têm trabalhado com o sistema de saúde britânico e estão prontas para se internacionalizar”. Entre as expertises dessas empresas está o cuidado remoto e virtual, cuidados pessoais e bem-estar, triagem e avaliação, dados e análises, e tecnologia do futuro.

Na sequência, Guilherme Rabello falou mais sobre a parceria entre o Reino Unido e o Brasil, no âmbito do Instituto do Coração, parte do complexo do Hospital das Clínicas. Iniciativas que abordaram a jornada do paciente e o cuidado personalizado. “É preciso ter muita resiliência em implementar coisas que nós não temos o pleno domínio ainda. Do lado do paciente, estamos falando de muitos dados – que nós não temos de forma integrada. Do outro lado, temos o cuidador, o profissional, as equipes, que também têm hábitos muito sedimentados. Então trazer a solução tecnológica não basta, os envolvidos precisam entender por que mudar”.

Ao apresentar os gadgets criados especificamente para o trabalho – equipamentos e aplicativos –, Rabello destacou a acessibilidade, a privacidade e o funcionamento alinhado à realidade do mundo digital – que tem destacado cada vez mais a presença da Inteligência Artificial e dos assistentes virtuais acionados por voz.

Marco Bego tratou do uso da estratégia de saúde digital para acesso e qualidade. “Já há três anos, nós entramos com a parte de inovação que conecta o Hospital das Clínicas com todo o mercado. Então, a nossa função hoje lá é conectar recursos focados na jornada do paciente”. Bego explicou que, permeando o trabalho, está a constante investigação acerca de como fazer para que o HC “ajude o mercado”. Em outras palavras, adequar a estrutura interna para que seja possível realizar programas de inovação aberta. “E isso envolve a parte de empreendedorismo, ou seja, eu estou conectado com empresas britânicas, com startups… É essa conexão que dá velocidade de resposta ao setor”.

Por fim, Giovanni Guido Cerri falou sobre como é coordenar todas essas iniciativas encampadas pelo Núcleo de Inovação do HC. “Quando nos demos conta de que era muito importante organizar a inovação no Complexo do HC foi no sentido de estimular o empreendedorismo na saúde”, esclareceu Cerri. “Ou seja, criar uma cultura, fazer com que o alunos – da Faculdade de Medicina da USP e de outras instituições de saúde – começassem a incorporar a ideia de poder empreender e inovar”.

Segundo o Vice-presidente do ICOS, a ideia foi então, diante dessa premissa, conectar a academia, o governo e empresas, sempre na perspectiva de atrair investimentos e destacar o papel do empreendedor.

Valor em saúde

Quem iniciou os debates do Paine 2 – Jornada de cuidados em saúde baseados em valor no Brasil e na América Latina: tendências e casos práticos – foi Kelly Ildefonso, do Hospital Sírio Libanês, que falou sobre sustentabilidade e valor na cadeia de saúde – um ambiente que, segundo sua análise, tende a fragmentar as expectativas.

“Cada um de nós tem um pensamento diferente: paciente quer exame, operadora quer pagar menos e os hospitais e a indústria querem receber mais – isso sem contar a Gestão de Saúde Populacional nas empresas, um outro stakeholder. E isso me trouxe a noção de que nós temos que discutir todos juntos”.

Kelly destacou a importância de falar de modelos de remuneração em saúde, sobretudo, diante de mudanças significativas de cenário, como o envelhecimento da população, e o consequente aumento da prevalência de doenças crônicas, e a elevação dos custos. “Não coordenando o cuidado, a gente tem uma fragmentação de rede e fica sem saber se o que está entregando para o nosso paciente tem, de fato, qualidade”.

Fabrício Campolina deu continuidade ao discurso das mudanças exigidas diante de uma realidade em constate transformação. “Se não mudarmos a forma de alocar os recursos, enquanto nossa população envelhece e tende a precisar mais deles, a gente vai ter uma situação cada vez mais complexa. E um dos caminhos de mudança é a remuneração baseada em valor”.

Clique aqui e acesse a publicação ICOS Modelos de Pagamento Baseados em Valor e aqui para conferir o e-book Jornada da Adoção de Cuidados em Saúde Baseados em Valor no Brasil: aprendizagens, casos de sucesso e caminhos para o futuro.

“Um grande ponto que surge, quando falamos em modelos de pagamento baseados em valor, é parar de simplesmente tratar a doença e começar a ter uma visão de promoção de saúde”, explicou. “Isso é importante porque, segundo estudos, ter doenças crônicas sob controle possibilita reduzir em até 34% o gasto com o paciente”.

Charles Al Odeh encerrou o painel fazendo uma provocação: por que modelos tão bem-sucedidos, alguns deles apresentados ao longo dos painéis, não são prevalentes no sistema de saúde hoje? “Quando você começa a qualificar a pergunta há uma chance melhor de chegar na resposta. E eu acho que é isso que a gente tem a obrigação de fazer. As respostas vão vir da inteligência que temos na sociedade, e no setor da saúde mais especificamente”.

Sobre o valor na saúde, Odeh colocou que se trata de um ponto de chegada e não de partida. “É algo que precisa ser construído. Então, sistemas de pagamento que não são baseados em tecnologia, métrica e educação, não funcionam”.