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Realizada pela Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), a CONAHP 2020 foi 100% digital e interativa, reunindo representantes de toda a cadeia da saúde no Brasil para discutir o tema Lições da pandemia: desafios e perspectivas para o sistema de saúde brasileiro.

Além do apoio institucional, o Instituto Coalizão Saúde marcou presença no encontro representado por seu Presidente Claudio Lottenberg, que moderou o painel “Perspectiva da Sustentabilidade – Como os Sistemas de Saúde Contribuem para Manter de Pé a Sociedade Diante de Catástrofes e Epidemias?”.

O debate teve participação do Ex-Secretário Nacional de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson Oliveira; do professor da faculdade de medicina da Universidade de São Paulo, Gonzalo Vecina; e do CEO do Hospital do Coração (HCor), Fernando Torelly.

Lottenberg iniciou ressaltando o privilégio de poder ouvir os especialistas ali reunidos, “dentro de uma perspectiva tão qualificada, num assunto da mais alta importância”, em face ao momento que estamos vivendo. “O Brasil tem um nível de pessoas bastante qualificadas para se envolverem em questões de natureza estruturante. Acho que nós deveríamos, para funções de natureza de Estado, dar o devido respeito a profissionais qualificados e, particularmente o setor da saúde, nos ocupar de políticas de saúde – e menos de política na saúde”.

Cooperação

Ao abrir os trabalhos, Wanderson Oliveira traçou um panorama das crises sanitárias sofridas pela humanidade ao longo da história. O Ex-Secretário informou que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 70% das novas doenças terão algum animal na sua cadeia de transmissão. “O coronavírus é um exemplo. Trata-se de uma zoonose, uma doença que teve, em algum momento de sua cadeia de transmissão, uma relação entre homem e animal”.

No que toca à atuação do poder público diante de pandemias como a de covid-19, Oliveira afirmou que são levados em consideração dois elementos centrais em uma emergência: preparação e resposta. Estratégia que envolve etapas como a detecção do problema e a verificação dos fatos que o envolvem. E ressaltou o benefício de o Brasil ter um sistema único de saúde.

“Países que têm sistemas de saúde universais tiveram experiências mais exitosas na resposta à pandemia do coronavírus. Mas, como já disse a OMS, nenhum país do mundo está completamente preparado para responder a uma emergência de saúde pública sozinho, sem precisar do apoio de terceiros”.

Informação e comunicação clara

O professor Gonzalo Vecina centrou sua fala em dois pontos: informação e clareza na comunicação. “Essa epidemia e a próxima têm que ser enfrentadas com humildade. Quando a gente fala da relação ‘bicho-homem’, a gente pensa que é uma coisa simples. Mas não é. É algo muito mais complexo e que necessita de muito mais condição de explicação”.

Sobre o segundo ponto, o acadêmico afirmou que “a sociedade está recebendo mensagens erradas”, ao se referir ao recrudescimento no número de casos de covid-19 (o painel aconteceu em 19 de novembro). “A sociedade achou que [o risco] já acabou, os jovens estão na rua e encontrando o vírus. Eles voltam para casa e interagem com seus velhos, que pegam a doença – e de novo nós vamos ter a discussão sobre colapsos em hospitais”.

Aspectos econômicos

Fernando Torelly trouxe o aspecto da sustentabilidade da economia do sistema e saúde. “Nós precisamos analisar qual o impacto econômico para a sociedade [da pandemia], e o quanto o sistema de saúde contribuiu para que a economia tivesse que ficar fechada – e precisamos aprender com isso para que a sociedade fique preparada para o que está por vir”, afirmou, fazendo questão de ressaltar que o Sistema Único de Saúde (SUS) e os hospitais privados tiveram “um desempenho fantástico” no enfrentamento da pandemia. “Com todas as dificuldades de recursos, planejamento e controle central”.

Em seguida, Torelly apresentou números sobre o desemprego no país – que atualmente é de 14.4%. Entre os jovens, segundo informou o CEO, essa taxa varia de 32% a 35%. E comentou ainda que se trata de uma parcela da população hoje dependente do Auxílio Emergencial do Governo Federal e que, quando tentarem retornar ao mercado, irão se deparar com um cenário árido.

“E tudo isso aconteceu porque nós não sabíamos se os sistemas público e privado de saúde teriam condições de fazer o enfrentamento da pandemia. Foi em função disso que foi decretada, corretamente, uma quarentena, e muitas cidades e estados paralisaram sua atividade econômica”.

Ao finalizar o debate, o Presidente do ICOS mencionou a atual carência de uma política industrial de saúde. “Nós temos o costume na sociedade brasileira – talvez não seja só nó Brasil, talvez seja no mundo inteiro – de destruir aquilo daquele que nos antecede”, afirmou. “Nós não vemos o perfil de mudança da sociedade como um processo de aprimoramento, um processo de uma transformação evolucionista”

Lottenberg esclareceu também que o processo industrial da saúde foi colocado em prática, ao longo dos últimos 15 anos, “guiado pelos exemplos ruins e não pelos bons”. E chamou todos os envolvidos, nos setores público e privado da saúde, à responsabilidade para reverter esse quadro “Política pública não é constituída somente por aqueles que estão no exercício de uma função pública. Cabe a nós consertar, melhorar e fazer com que isso possa acontecer”