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Folha de S. Paulo

CLAUDIO LOTTENBERG E GIOVANNI GUIDO CERRI

É inaceitável que o processo de escolha do ministro da não discuta questões essenciais do setor e não dê ouvidos à sociedade civil. Sempre que a população brasileira tem chance de manifestar sua opinião sobre questões que a afligem, a saúde costuma aparecer como o principal problema, a maior demanda e também o pior serviço.

Apesar de alguns avanços e de ilhas de excelência, a maioria dos brasileiros enfrenta um duplo sofrimento quando adoece: sofre com a doença e com as condições de atendimento, muitas vezes lamentáveis. Ao declararem sua insatisfação e reprovação à assistência à saúde em pesquisas de opinião, as pessoas estão manifestando também a esperança de alguma melhoria.

Se é senso comum dizer que “a saúde é o bem mais importante que temos”, seria de se esperar que os governantes tratassem a questão com respeito, considerando a sua relevância para cada cidadão. Além disso, nossos gestores públicos deveriam considerar questões como a importância da saúde para o desenvolvimento socioeconômico e para a ciência e tecnologia, a integração de ambientes públicos e privados e o papel das políticas públicas de saúde.

Também teriam que pensar na necessidade de formação de profissionais, nos sistemas de financiamento, regulação e na integração dos diversos atores envolvidos. Temas como esses deveriam pautar as discussões sobre a administração da saúde no Brasil, principalmente em momentos de escolha do responsável pela gestão de seu respectivo ministério.

Mas, em vez de debates sobre políticas, estratégias e planos concretos para melhoria da saúde, o processo de escolha do novo ministro ocorre num obscuro balcão de barganhas no qual cargos públicos, que deveriam ser tratados com dignidade, são oferecidos em troca de algum efêmero apoio partidário.

Negociação com o Parlamento e construção de apoio político são práticas legítimas e necessárias no exercício da democracia. Contra isso não há o que opor. Não há, tampouco, julgamento de valor em relação a nomes mencionados. O inaceitável é o processo, que, além de não discutir questões essenciais, não dá ouvidos à sociedade civil e ignora completamente um setor que envolve produtos, serviços e equipamentos indispensáveis no dia a dia dos cidadãos.

O setor da saúde pode não ter o glamour de outros aos quais governantes costumam dedicar tempo e atenção, mas é uma das atividades econômicas mais importantes no Brasil, pois representa 9% do PIB e gera 4,3 milhões de empregos diretos, de qualificação mais elevada do que a média nacional.

O sistema de saúde brasileiro é formado por uma rede complexa que inclui indústrias, universidades, centros de pesquisa, prestadores de serviço, operadoras de planos de saúde, empresas de tecnologia da informação, de comércio de medicamentos e outras atividades de assistência da população.

Todos esses atores competem entre si, gerando um modelo misto financiado direta ou indiretamente por recursos privados. Ciente dos desafios do sistema de saúde no país e consciente danecessidade de um trabalho conjunto para o seu enfrentamento, um grupo de representantes dessa cadeia privada formou a Coalizão

Saúde, reunindo inicialmente representantes de prestadores de serviços, de operadoras de planos, da indústria farmacêutica e da indústria de materiais e equipamentos médicos. O objetivo dessa coalizão é contribuir, de forma propositiva e plural, para o debate e a busca dos novos avanços em saúde, em resposta às demandas da população e às necessidades do país.