Confira a íntegra da apresentação do Presidente do ICOS durante o III Congresso de Direito Médico e da Saúde, realizado pela Ordem dos Advogados do Brasil – OAB. Giovanni Cerri participou do painel “Tendências e Inovações no Ecossistema de Saúde”.
A saúde é um tema fascinante, repleto de complexidades que exigem parcerias para que possamos avançar. Neste depoimento, vou compartilhar como funciona o ecossistema da saúde no Brasil, destacando alguns desafios e casos práticos de colaboração.
Um dos principais desafios do sistema de saúde brasileiro é a sustentabilidade. Embora o investimento percentual em saúde possa parecer semelhante ao de outros países, o gasto per capita é consideravelmente baixo, especialmente no SUS, que atende a maior parte da população. A disparidade é evidente: mais da metade dos recursos vai para o setor privado, que atende apenas 25% da população. Com o aumento dos custos e o envelhecimento populacional, a situação se torna ainda mais crítica.
Outro aspecto que merece atenção é a cultura da medicina. Existe uma tendência de focar mais no tratamento de doenças do que na prevenção e promoção da saúde. Investir em hábitos saudáveis é, sem dúvida, mais sustentável e econômico a longo prazo. Além disso, há uma escassez de profissionais qualificados, já que muitas faculdades formam médicos sem condições de atuar efetivamente.
Desafios para a saúde
As desigualdades regionais são uma realidade no Brasil. Algumas áreas possuem melhor acesso à saúde, enquanto outras enfrentam grandes dificuldades. Isso é ainda mais evidente nas periferias das grandes cidades e em regiões remotas. O alto custo da saúde e a necessidade de investimento contínuo em novas tecnologias e medicamentos agravam essa situação.
Outro grande desafio é a judicialização da saúde. Em junho de 2024, mais de 800 mil processos relacionados à saúde estavam pendentes. Apesar de tentativas de resolução, a curva de judicialização continua a crescer. Isso desvia recursos do sistema público, prejudicando o atendimento à população.
O sistema de saúde é multifacetado e envolve profissionais, hospitais, indústrias farmacêuticas e agências reguladoras. Para que funcione de forma harmoniosa, é essencial desenvolver modelos de parceria. A colaboração entre o setor público e privado, com o apoio de fundações e associações, tem se mostrado promissora.
Casos de sucesso
Um exemplo significativo de parceria é o Hospital das Clínicas, vinculado à Faculdade de Medicina da USP. A Fundação Rockefeller contribuiu para a construção do hospital, que se tornou o primeiro hospital-escola do país. Com o passar dos anos, surgiram fundações de apoio que facilitaram a captação de recursos e a modernização das instalações.
Em 2008, o Instituto do Câncer, um dos maiores do país, foi criado sob um modelo de gestão que se mostrou eficaz. Este instituto já atendeu mais de 133 mil pacientes ao longo de um ano, destacando-se pela qualidade do atendimento e pela inovação.
Além disso, convênios com a Anvisa e parcerias internacionais, como a colaboração com o Reino Unido para o desenvolvimento da saúde digital, têm proporcionado avanços significativos. O projeto de saúde digital, focado na atenção primária, busca atender áreas remotas, facilitando o acesso aos cuidados necessários.
Inovação e empreendedorismo
O INOVA-HC, criado em 2015, visa fomentar a cultura de inovação na saúde, estabelecendo parcerias para o desenvolvimento de soluções que atendam às necessidades da população. Esses projetos mostram que a administração pública pode estimular o empreendedorismo e a criação de produtos adaptados à realidade brasileira.
As parcerias público-privadas têm demonstrado um grande potencial para transformar o sistema de saúde no Brasil. Desde a criação de modelos de gestão eficientes até a implementação de tecnologias inovadoras, cada passo dado é uma oportunidade para melhorar a qualidade e o acesso aos serviços de saúde. Agradeço a oportunidade de compartilhar essas reflexões sobre o futuro da saúde em nosso país.