
Ocasião reuniu lideranças da saúde para discutir como o cenário econômico global impacta a sustentabilidade do setor no Brasil.
O Instituto Coalizão Saúde (ICOS) apoiou, na sede do InovaHC, um evento realizado por iniciativa do Banco Safra, que reuniu representantes de diferentes instituições de saúde e contou com palestra do ex-Ministro da Fazenda Joaquim Levy sobre o cenário macroeconômico no Brasil e no mundo.
Ao abrir o encontro, o presidente do ICOS, Giovanni Guido Cerri, destacou a relevância do debate econômico para a sustentabilidade do setor de saúde, especialmente em países com sistemas universais como o Brasil. “O envelhecimento populacional tem colocado em xeque a capacidade de manter um atendimento adequado, mesmo em países ricos. No Brasil, os desafios são ainda maiores, tanto no sistema público quanto no privado”, afirmou.
Cerri ressaltou que inovação e transformação digital – incluindo saúde digital, inteligência artificial e interoperabilidade – podem contribuir para reduzir custos, ampliar acesso e diminuir desigualdades. Cerri também observou que o país importa cerca de 70% do que consome em saúde, embora tenha capacidade de produção interna e de desenvolvimento tecnológico. “Virar essa realidade é fundamental. A inovação é um instrumento central para garantir a sustentabilidade do sistema”, concluiu.

Investimentos em pesquisa e saúde
O superintendente do Hospital das Clínicas, Antônio José Pereira, reforçou que investir em saúde significa investir em produtividade e qualidade de vida. Segundo Pereira, a discussão econômica não pode estar dissociada das políticas de saúde pública. “Não se trata apenas de reduzir custos, mas de reduzir desperdícios, o que impacta diretamente na longevidade e na produtividade da população”, disse.
Antônio José Pereira também chamou atenção para a dependência externa na área da saúde: em 2023, o Brasil importou mais de US$ 20 bilhões em tecnologia médica. “A pandemia mostrou o quanto precisamos de autonomia. Hospitais universitários, como o HC, têm papel estratégico na pesquisa, inovação e formação profissional para enfrentar esses desafios”, completou.
A diretora da Faculdade de Medicina da USP, Eloisa Silva Dutra de Oliveira Bonfá, destacou que as decisões econômicas influenciam diretamente a gestão da saúde, afetando desde a aquisição de equipamentos e manutenção de tecnologias até a viabilidade de projetos de pesquisa e inovação. “Quando o orçamento não acompanha a inflação, o planejamento de longo prazo fica comprometido. É justamente em momentos de incerteza que não podemos reduzir o investimento em ciência, pois ela é o motor do desenvolvimento sustentável”, afirmou.

Para a professora, o encontro com o ex-ministro representou uma oportunidade de convergir ciência, inovação e visão econômica. “Que possamos transformar desafios em oportunidades e construir um Brasil mais saudável, inovador e sustentável”, concluiu.
Cenário macroeconômico: oportunidades e riscos para Brasil e mundo
Em sua palestra, Joaquim Levy traçou um panorama da economia global, com foco nas mudanças recentes nos Estados Unidos e seus possíveis reflexos no Brasil. O ex-ministro destacou que, até 2023, a economia norte-americana combinou fatores que ajudaram a controlar a inflação sem provocar recessão, como a entrada expressiva de imigrantes no mercado de trabalho, energia barata, insumos mais acessíveis e avanços tecnológicos, especialmente na inteligência artificial.
Segundo Levy, parte dessas condições já se alterou: “A redução da imigração e mudanças na oferta de energia tendem a pressionar preços”, disse, lembrando também que as novas tarifas comerciais nos EUA funcionam, na prática, como um imposto sobre o consumo, com potencial efeito inflacionário. Ele avaliou que a inteligência artificial continuará impulsionando produtividade, mas pode gerar, no curto prazo, desafios no emprego, sobretudo para jovens e profissionais em funções repetitivas.
Levy alertou para o aumento da incerteza no comércio internacional e para as tensões geopolíticas, com destaque para a desaceleração da China, que tem impacto direto sobre a demanda global. No caso brasileiro, Levy vê um quadro de desaceleração econômica em linha com o esperado pelo Banco Central para controlar a inflação, câmbio mais estável e exportações sustentando o crescimento. “A economia deve avançar menos que no ano passado, mas com inflação em queda e espaço para redução gradual dos juros a partir do fim do ano, se não houver choques externos relevantes”, resumiu.