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A série de webinários Diálogos Brasil-Reino Unido em Saúde Digital: Desafios e Oportunidades em Telessaúde, realizada pelo Instituto Coalizão Saúde e Governo Britânico, discutiu questões fundamentais para a implementação e o aprimoramento da telessaúde no Brasil, além de tratar sobre como os dois países podem cooperar nessa questão.

Foram quatro sessões de 1h30 cada, com especialistas e lideranças brasileiras e internacionais, e divididas por temas. No dia 02 de março, a sessão 3 abordou Perspectivas para o Futuro da Telessaúde e reuniu, no time de palestrantes, o Presidente do Conselho de Telemedicina da The Royal Society of Medicine, Loy Lobo; a Diretora da Clínica Nacional para Atenção Primária Digital (NHS England e NHS Improvement), Dra. Minal Bakhai; o Vice-Presidente do ICOS e Presidente do INRAD-FMUSP, Giovanni Cerri; e o professor titular de pneumologia Dr. Carlos Roberto de Carvalho, também responsável pela UTI respiratória do Incor (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP).

Os comentários foram do Presidente da Academia Nacional de Medicina, Rubens Belfort; e do Presidente do Sindhosp e do Conselho de Administração do CBEXs, Francisco Balestrin, que também conduziu a sessão.

Confira aqui a íntegra do painel:

Em sua fala inicial, Francisco Balestrin destacou a realização dos painéis, no contexto de parceria entre o Sindhosp, o CBEXs e o ICOS, sobre o qual ressaltou a posição inovadora na discussão da cadeia de saúde no Brasil. “[o ICOS] tem atuação e atividades muito instigantes e que nos levam a momentos muito interessantes de discussão”, afirmou, para em seguida passar a palavra para a Dra. Minal Bakhai.

Diretora de uma unidade de Atenção Básica, no Reino Unido, Dra. Bakhai falou sobre a resposta digital à Covid-19 no Serviço Nacional de Saúde (National Health Service – NHS), no qual, em resposta à pandemia, todas as unidades de Atenção Básica foram encorajadas a adotarem um mecanismo de triagem e diagnóstico, a fim de minimizar a exposição dos pacientes ao risco – estratégia que incluiu um sistema de consultas remotas por vídeo.

“Essa foi uma resposta adaptativa a uma situação repentina, tudo tratado de maneira conjunta com times que cuidavam das demandas em cada região coletivamente e que traçaram o planos de ação”, explicou, ao mostrar slide onde se destacava o trabalho da NHS – em esfera nacional, regional e local – no suporte aos membros da cadeia, sobretudo, no impulsionamento dos serviços baseados em dados.

Experiência no Reino Unido

Loy Lobo foi o próximo a fazer sua apresentação, compartilhando uma experiência de 20 anos em telessaúde e telemedicina. O especialista equalizou o cenário de crise com o comportamento das pessoas com relação às consultas remotas. Para ele, a tendência que se mostra hoje, entre as “ondas” da pandemia, é o uso da telemedicina, por parte dos pacientes e médicos, cair conforme formos retomando a normalidade – e isso no mundo todo.

“A tecnologia existe há muitos anos”, disse. “No Reino Unido, o NHS tem essa capacidade de fazer consultas [à distância] com segurança desde 2007, mas os recursos nunca foram usados. Foi preciso haver uma pandemia para as pessoas começarem a usar um serviço que já estava disponível há 15 anos”.

Lobo também listou os benefícios da saúde digital tanto para médicos quanto para pacientes, incluindo em sua lista a capacidade de tratar mais pessoas, a tendência a cometer menos erros e o aumento do amparo legal aos profissionais. Por parte dos atendidos, esses pontos positivos, segundo Lobo, passam por um maior acesso ao cuidado e diminuição do tempo de espera para uma consulta e do tempo gasto em deslocamentos.

História de avanços e conquistas

O Vice-Presidente do ICOS, Giovanni Cerri, foi o primeiro dos palestrantes brasileiros a falar, e chamou a atenção para o momento de aceleração de benefícios que vinham “lentamente avançando” até então, e a consequente consolidação da saúde digital como um dos pilares do InovaHC, o sistema de inovação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

“Ou seja, fazer com que a saúde digital esteja presente em todos os institutos e no atendimento dos pacientes dentro do complexo do Hospital das Clínicas e dentro de suas relações em a Atenção Primária”, explicou, informando que há planos para que todos os residentes que se formem na FMUSP saiam da instituição já treinados em saúde digital.

Membro do Comitê de Contingência do Governo do Estado de São Paulo, Dr. Carlos Roberto de Carvalho traçou o histórico das diferentes infecções pulmonares que já mobilizaram o mundo – como a causada pelo H1N1 e o atual Sars-CoV-2 (o novo coronavírus), causador da Covid-19 – e explicou os procedimentos para pessoas que chegam até o Incor com problemas respiratórios.

“A nossa linha de cuidados com o paciente vai desde o momento em que ele está em casa e sente os primeiros sintomas até quando ele volta e precisa ser acompanhado para diagnóstico de eventuais sequelas ou precisa entrar num programa de reabilitação”, explicou, acrescentando que, para realizar adequadamente o atendimento de UTI, é utilizada a telemedicina para conexões com outros hospitais da rede pública de São Paulo – a chamada TeleUTI.

Jogo de sinergia

No momento dos comentários, Rubens Belfort iniciou sua fala ressaltando que “a ideia de que a Inglaterra é muito importante para o Brasil é fundamental”. Segundo o médico, não somente porque nosso Sistema Único de Saúde (SUS) é inspirado no NHS britânico, também porque o Reino Unido, em sua análise, conseguiu se liberar entraves que muitos países, entre eles os Estados Unidos, não conseguiram.

“Os Estados Unidos são um ótimo e um péssimo exemplo”, avaliou. “Todas as coisas boas que eles têm em medicina se contrapõem às coisas ruins, como a excessiva mercantilização e a dificuldade de avançar em termos de saúde pública”.

Finalizando a sessão, Francisco Balestrin comentou que o “jogo de sinergia” entre os benefícios da telessaúde para ambos os lados, médicos e pacientes, mostra como essa tecnologia tem um grande potencial de “ganha-ganha”. “Todos os lados precisam ganhar dentro desse desenho”, avaliou.