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A série de webinários Diálogos Brasil-Reino Unido em Saúde Digital: Desafios e Oportunidades em Telessaúde, realizada pelo Instituto Coalizão Saúde e Governo Britânico, tem discutido questões fundamentais para a implementação e o aprimoramento da telessaúde no Brasil, além de tratar sobre como os dois países podem cooperar nessa questão.

São quatro sessões de 1h30 cada, com especialistas e lideranças brasileiras e internacionais, e divididas por temas. No dia 23 de fevereiro, a sessão 2 abordou o Histórico da Implementação da Telessaúde no Reino Unido e no Brasil, desafios e possibilidades, tendo o Vice-Presidente do ICOS, Giovanni Cerri, como apresentador do painel.

O time de palestrantes foi formado pelo chefe da disciplina de telemedicina da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e líder do Grupo de Pesquisa USP em Telemedicina e Saúde, Chao Lung Wen; pelo gestor da Clínica Salute e ex-secretário de Atenção Primária no Ministério da Saúde, Erno Harzheim, e pelo diretor clínico da National Association of Primary Care, Dr. Nav Chana, também diretor não-executivo do Kingston Hospital NHS Foundation Trust e parceiro sênior da Cricket Green Medical Practice.

Os comentários foram do Presidente da FenaSaúde, João Alceu; e do Presidente do Conselho de Administração da Abramed, Wilson Shcolnik; que também conduziu o debate.

Confira aqui a íntegra do painel:

Durante a apresentação da sessão 2, Giovanni Cerri ressaltou a atualidade de um tema que “nos ensinou a necessidade de podermos atingir com mais facilidade lugares remotos, de poder ter o nosso sistema de saúde mais próximo da população”

O primeiro a fazer sua apresentação foi Chao Lung Wen que abordou a história da telessaúde no Brasil, incluindo sua evolução no âmbito da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), instituição que criou a primeira disciplina de telemedicina do país, em 1997. Wen também chamou a atenção para as próximas fases que devem se seguir à incorporação dessa tecnologia, o que chamou de “saúde conectada” e “cuidados biopsicossociais”.

“No Brasil, existe muita diferença entre telemedicina e telessaúde”, ressaltou, explicando que a primeira foi reconhecida como o exercício da medicina; ao passo que a segunda seria, em sua visão, um guarda-chuva que abriga “todas as profissões de saúde. E fez um alerta: “Ambas permitem graus diferentes de exames físicos, baseados em dispositivos como ultrassom portátil, oftalmoscópio dermatoscópio, termógrafo, entre outros. Mas isso tudo precisa ser ensinado aos profissionais”.

Em seguida, Erno Harzheim apresentou alguns marcos da trajetória da telemedicina no Brasil, com ênfase na Atenção Primária, e ressaltou como essas experiências resultaram, em suas épocas, em um importante impacto na solução de casos, evitando internações hospitalares. “E tivemos também o projeto Regula SUS, que objetivava intervir nas listas de espera, algo que faz parte de qualquer sistema universal de saúde e que no Brasil representa o grande calcanhar de Aquiles”.

Ainda na visão de Harzheim, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem dois grandes desafios a serem enfrentados: acesso e efetividade/qualidade das intervenções. “A gente tem um problema de qualidade no sistema”, afirmou. “Temos inúmeras equipes de saúde da família que se organizam de tal forma que não conseguem entregar verdadeiramente Atenção Primária e cuidado certo para os pacientes dentro das unidades de saúde”.

Experiência no Reino Unido

O representante do Reino Unido, Dr. Nav Chana optou por apresentar as lições aprendidas em seu país ao longo do último ano, principalmente por conta da pandemia. “Antes da pandemia, nós não tínhamos adotado a digitalização principalmente nas clínicas de Atenção Primária”, contou, acrescentando que 80% das consultas em sua clínica eram presenciais, 12% eram por telefone, e o restante variava entre vídeos e mensagens de texto. “Os médicos e enfermeiros diziam que atrapalhava o trabalho, que era caro e complicado, demandando muito treino e suporte”.

Após um ano de pandemia, as consultas por vídeo ou telefone somam 60%. E mesmo quando essa crise estiver no passado, segundo o médico, a previsão é de que 50% das consultas sejam presenciais e 50% de forma remota, com os diferentes recursos digitais. “A adoção da tecnologia é sempre um desafio”, disse, lembrando da resistência de alguns médicos quando, em 1816, o médico francês René Laennec inventou o estetoscópio. “E isso se dá porque, muitas vezes, os médicos não querem assumir os riscos e garantir que qualquer inovação seja testada. Sendo assim, sempre demora um certo tempo para adotarmos novas tecnologias”.

Qualidade e segurança

No momento dos comentários, João Alceu, Presidente da FenaSaúde e economista de formação, trouxe um pouco da perspectiva pragmática, por parte das operadoras de saúde, durante a pandemia. “O no show [não comparecimento à consulta], que é comum em operadoras que têm suas próprias redes de cínicas, diminuiu bastante”, exemplificou. “Assim como aumentou a facilidade de encaixar novos pacientes no lugar dos que não apareceram”, conclui, resumindo o principal ganho da aceleração do conceito de telessaúde no Brasil: acesso.

“Houve uma melhoria nesse sentido. Mais acesso, melhor acesso. É uma palavra-chave, o benefício principal da telemedicina”.

O último comentário foi de Wilson Shcolnik, Presidente do Conselho de Administração da Abramed, que lembro que em sua área, medicina diagnóstica, a telepatologia e a telerradiologia já vêm sendo muito utilizadas antes da pandemia. “Mas, além disso, nós temos visto uma nítida tendência na integração dos serviços de saúde e formação de plataformas”

Ao final, Shcolnik ressaltou que a telessaúde, para o diagnóstico e na escala que presenciamos, com a pandemia, não tem precedentes em todo o mundo. “Há de se compreender melhor as implicação para a qualidade e a segurança do diagnóstico”.