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Claudio Lottenberg e Giovanni Guido Cerri abordaram, em suas palestras, o futuro da saúde e as contribuições da tecnologia para o setor

Com uma programação centrada na geração de conteúdo, na troca de experiencias e na realização de novos negócios, o Global Summit Telemedicine & Digital Health 2021 foi realizado de 9 a 12 de novembro, forma 100% online e em um formato de experiência virtual.

Foram 95 sessões com mais de 200 palestrantes, nacionais e estrangeiros, que apresentaram palestras, participaram de debates e trocaram experiências nos dois temas centrais do evento: telemedicina e saúde digital.

A iniciativa é da Associação Paulista de Medicina (APM), em parceria com o Transamérica Expo Center, e teve o Instituto Coalizão Saúde entre seus apoiadores institucionais.

No dia 9/11, durante a abertura oficial, o Global Summit apresentou palestras de Claudio Lottenberg, Presidente do ICOS, do Conselho da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein e da Confederação Israelita do Brasil (CONIB); e de Giovanni Guido Cerri, Vice-presidente do ICOS e Presidente do Conselho Diretor do InRad do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Tempo de transformações

Com o tema Saúde no Mundo Digital, Claudio Lottenberg começou sua fala destacando a importância crescente da educação para a saúde hoje e no futuro. O que, destacou, em nada deverá esvaziar o papel do médico, ponto que vem ressaltando em suas participações em eventos do setor.

“O que vai acontecer é uma transformação da atividade médica”, avaliou. “O médico sempre terá um papel de liderança, um papel decisivo. Mas as suas funções vão mudando no decorrer do tempo”.

Lottenberg rememorou ainda a infância, época em que era atendido por médicos que realizavam exames diagnósticos por meio de matéria orgânica colhida do paciente nos próprios consultórios. Já o patologista clínico do passado, lembrou também, era aquele que realizava os hemogramas.

“E hoje nós vemos algo semelhante, em termos de transformação, com o próprio profissional da radiologia, que hoje se automatiza. Grande parte dos diagnósticos é feita de forma automatizada. O médico radiologista desaparece? De forma alguma. Ele está ali para tirar dúvidas diagnósticas e para caminhar naquilo que nós chamamos de medicina intervencionista”.

Para Lottenberg, é possível afirmar que essas transformações, que vêm ocorrendo ao longo dos anos, foram aceleradas por conta da pandemia. “Nós estamos agora num momento de migrar de um modelo de assistência presencial, que dependia de uma relação física permanente, para um modelo que, no fundo, nos leva a questões relacionais já presentes em outros ramos do relacionamento”.

O palestrante também considerou cenários que apresentam maior dificuldade de serem encaminhados pela telemedicina, como algumas consultas em dermatologia e procedimentos cirúrgicos. O que demanda o cuidado, como salientou, para não tratarmos a saúde de forma linear e generalizada, uma vez que algumas das especialidades e algumas das áreas têm uma capacidade maior de se alinharem às plataformas digitais, ao passo que outras apresentam desafios maiores para isso.

“Existe, dentro da perspectiva de todos nós que nos engajamos na assistência, a expectativa de que a tecnologia pode ser a resposta para todos os males. E isso não é verdade. E mesmo em relação a cada uma das oportunidades ela tem uma inserção absolutamente diferente”.

Na esteira dessa reflexão, Lottenberg mencionou como o Hospital Israelita Albert Einstein teve a oportunidade de oferecer grande contribuição, durante a pandemia, com os recursos da telemedicina, levando assistência a cerca de 3 milhões de pessoas, segundo informou.

Ainda de acordo com Lottenberg, o hospital conseguiu reduzir, com a telemedicina, o tempo de espera para o tratamento do melanoma (câncer de pele) de doze meses para duas semanas. “O ganho aqui é que você consegue, através de uma mecânica de triagem, encaminhar [os casos] de forma mais direcionada”.

Ainda que não seja um modelo aplicado para todo os quadros em medicina, ponderou, é uma forma de encontrar novas oportunidades em diferentes especialidades.

Projeto HC Saúde Digital

Durante a palestra Saúde Digital: Reduzindo as Desigualdades do SUS, Giovanni Guido Cerri apresentou o projeto HC Saúde Digital, criado no InovaHC, o Núcleo de Inovação Tecnológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, que atua como um catalisador de inovação em saúde ao conectar pesquisadores, empreendedores e alunos; e viabilizar recursos que tornem mais eficiente e intuitiva a jornada de educação, de pesquisa e assistencial.

“O objetivo desse projeto é que o HC possa ser protagonista em inovação e saúde digital, em todos os níveis de atenção, com excelência na assistência, ensino e pesquisa, visando melhor a qualidade, acesso e equidade do sistema. Tudo isso a fim de diminuir a desigualdade dentro da saúde no país”.

Cerri também detalhou as etapas do projeto, que cobre desde a jornada do paciente até a estrutura tecnológica, passando pelos processos e protocolos médicos, a variação e gestão do impacto e aspectos econômicos.

“E, dentro disso, um destaque para a regulação”, ressaltou. “É importante ver todos os requisitos legais, inclusive as questões éticas, na saúde digital”.

Segundo informou também em sua apresentação, a estratégia de saúde digital do Hospital das Clínicas contempla inciativas divididas em três pilares: melhoria da experiência dos pacientes, aumento da capacidade da rede de saúde atuar de forma direta, e criação de soluções inovadoras a fim de formar força de trabalho em Saúde Digital para a rede.

Dentro disso, Cerri ressaltou o programa de capacitação de UTIs. “Esse programa começou em São Paulo, mas hoje está no Brasil inteiro. E foi possível acompanhar, nas UTIs que foram capacitadas, a redução da mortalidade”.

O teletreinamento cirúrgico também apareceu na fala do Vice-presidente do ICOS, assim como o um modelo piloto de Atenção Primária, o telemonitoramento de pacientes crônicos e a capacitação em saúde digital. “Todos os residentes do Hospital das Clínicas, a partir do ano que vem, vão ter uma formação em saúde digital, e estamos também levando esse programa para o curso de medicina”, informou.

Entre as metas consideradas pelo médico como “ambiciosas, mas realistas”, estão a realização de até 40% dos atendimentos de forma remota, a regulação de urgência em 30 mil pacientes, a capacitação de 70% dos profissionais de UTI do estado de São Paulo e dos residentes do Complexo HC, e a marca de 30 mil pacientes em acompanhamento remoto. Todas para até o final de 2023.

Sobre o que já está em andamento, Giovanni Guido Cerri citou o projeto de converter para a teleconsulta até 50% dos atendimentos presenciais, a consequente preparação dos pacientes e dos profissionais para esse formato; e o modelo de atendimento remoto para tomografias e ressonâncias. “O que é muito importante para lugares que têm o equipamento, mas não têm um técnico ou um biomédico que possa operá-lo – às vezes, durante o final de semana ou à noite”.