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Tendo o Instituto Coalizão Saúde como parte de seu Conselho Curador, representado na figura da CEO da instituição Denise Eloi, a edição 2020 do Global Summit Telemedicine & Digital Health, maior e mais relevante evento de telemedicina e saúde digital da América Latina. O encontro reuniu dezenas de lideranças do setor para quatro dias (de 13 a 16 de outubro) de painéis, debates, fóruns e talk shows – todos online, em virtude da pandemia do coronavírus (COVID-19).

Além do reforço na curadoria, o ICOS marcou presença no evento com seu Presidente, Dr. Claudio Lottenberg, abrindo os trabalhos (no dia 13/10) e com seu Vice-presidente, Prof. Giovanni Cerri, participando do talk show Atenção Primária, Inovação e Digitalização, ao lado do CEO do Hospital Sírio Libanês, Paulo Chapchap; e da Diretora Executiva do Hospital das Clínicas (HC-FMUSP), Marisa Madi. A mediação foi do Diretor Adjunto do ComSaúde-Fiesp, Eduardo Giacomazzi.

Experiência do Incor

Marisa Madi deu início às colocações, mencionando a “avalanche de necessidades” que impactou o setor por conta da pandemia, e a relação entre a Atenção Primária e a Terciária. “Apesar de termos iniciativas pontuais, é difícil enxergar, de forma sistêmica, uma conversa mais efetiva no sentido de tratar a integralidade e a coordenação do cuidado”, avaliou Marisa, para em seguida compartilhar algumas experiências mais recentes realizadas no Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP), com destaque para solução TeleUTI voltado aos profissionais da rede.

“A gente recebe os pacientes, da Atenção Primária ou Secundária, referenciados via Central de Regulação do Estado. O que tem funcionado bem. Mas é quando a gente termina essa intervenção, e poderia encaminhar de volta esse paciente para a Atenção Secundária ou Primária, é que surge nosso desafio: em primeiro lugar, garantir que o paciente se sinta seguro nesse retorno; e em segundo, fazer com que a Rede Primária sinta segurança também para atender esse paciente”.

Marisa explicou como a instituição tem discutido a questão, junto a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, a fim de estabelecer programas de contrarreferência. Em resumo, de que forma o hospital poderia contribuir para esse retorno do paciente à Atenção Primária. “O que é muito importante, porque nós [hospitais especializados] temos um recurso muito caro e específico. E se eu não esvazio esse recurso, no que poderia ser atendido pela Atenção Primária, a gente não consegue dar entrada para outros pacientes”.

Teleconsulta e saúde residencial

Em sua fala, o Prof. Giovanni Cerri relacionou a Atenção Primária ao uso da tecnologia. “A saúde digital abre uma enorme série de oportunidades no ecossistema da saúde. E nós temos o grande desafio de construir soluções de saúde digital escaláveis para todo o país”.

Na análise de Cerri, é preciso identificar oportunidades para aplicação da saúde digital na Atenção Primária, o que significaria considerável melhora da experiência do paciente no Sistema Único de Saúde (SUS). “E é isso exatamente o que nós buscamos: uma experiência melhor”, retomou. “Porque, muitas vezes, ele é assistido, mas a experiência não é tão simples, ou ele encontra dificuldade de acesso ao sistema. E a saúde digital permite criar fontes de eficiência”.

O Vice-Presidente do ICOS continuou dando alguns exemplos de que forma implementar essa tecnologia contribuiria para o setor como um todo. “Nós podemos utilizar a saúde digital para acompanhamento de pacientes crônicos, o que ajudaria a desafogar o sistema. E também é uma oportunidade para a introdução de novos modelos de pagamento e reembolso”

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A saúde digital permitiria também, segundo Cerri, conectar consumidores às modalidades tradicionais de atendimento, tais como a farmácia, o hospital, o ambulatório, especialistas, agendamentos e diagnósticos. “Ou seja, é a oportunidade de conectar todo esse sistema”.

Além da possibilidade de monitorar as atividades diárias do paciente, tendo como foco a promoção da saúde. “Nós podemos acompanhar as questões nutricionais, de atividades físicas, a reabilitação. É possível integrar os dados sociais (transporte, família, comunidade) e também os serviços de atendimento domiciliar, utilizando instrumentos como a teleconsulta, a saúde residencial e o monitoramento remoto de doenças agudas ou crônicas”.

Maior entrega de valor na saúde

“No sentido da qualidade do processo assistencial, faz todo sentido que os prestadores hospitalares abordem, ou cheguem antes, na jornada do paciente através da Atenção Primária”, começou avaliando o CEO do Hospital Sírio Libanês, Paulo Chapchap.

“Ficar restrito à atenção hospitalar não permite que a gente aumente, de forma relevante, a entrega de valor para além do que nós já fazemos. Ao passo que a abordagem, na Atenção Primária, possibilita que você atue antes da chegada da doença, na promoção da saúde.

O que, segundo o médico, também contribui para maior apuração quanto à pertinência das internações hospitalares, já que quando se atua fora do ambiente hospitalar é possível a entrega de uma análise mais precoce. “E muitas vezes consegue até evitar a internação”, afirmou. “Sem contar a própria sustentabilidade do sistema, seja o público ou o privado”.

Para que isso ocorra, no entanto, é fundamental que haja dados suficientes que permitam a tomada de decisões, lembrou o CEO. Dados esses que podem começar a ser capturados já no âmbito da Atenção Primária. “Histórico de saúde do paciente, dados epidemiológicos, ambientais, comportamentais, sociais e genéticos”, elencou. “Só que nós estamos muito longe disso. Na verdade, a gente captura e analisa uma quantidade de dados muito pequena para que a alta resolutividade da Atenção Primária realmente se materialize”.

O futuro da Atenção Primária no modelo digital

Na visão do Diretor Adjunto do ComSaúde-Fiesp, Eduardo Giacomazzi, mediador do painel, a necessidade de distanciamento gerada pela pandemia promoveu mudanças de mentalidade quanto à saúde digital na Atenção Primária também entre a própria população. “Agora não é só o médico que incorporou esse modelo, mas o cidadão. Cuidar de si e poder pela via digital ter acesso ao sistema à distância para se tratar. É um novo paradigma que se estabelece”, ponderou. A questão foi apresentada aos debatedores.

“Eu vejo, no futuro, uma integração de dados a partir da Atenção Primária”, começou Paulo Chapchap. “A ordenação da jornada do paciente só pode começar nesse primeiro contato. Agora, o provimento de ferramentas e de infraestrutura que a Atenção Primária vai precisar depende de um poder central”.

Marisa Madi deu sequência ao tópico lembrando a importância do que ela chamou de “ações estruturantes”. “A gente fica numa luta muito individual no sistema de saúde. Com iniciativas muito pontuais, justamente pela falta de ações estruturantes. A Atenção Primária coordenando e integrando o cuidado é um fato, acontece em outros países. Então, concordo com o Paulo quando ele diz que estamos precisando de macroações”.

O Prof. Giovanni Cerri finalizou reafirmando que, a seu ver, a saúde digital deverá ser incorporada pela Atenção Primária “por necessidade”. “Nós vamos ter que utilizar”, afirmou. “A dúvida é até que ponto e com que velocidade isso pode chegar a todo o país. Certamente teremos municípios que serão mais ágeis, modelos que serão mais bem sucedidos, e teremos regiões do país onde isso será incorporado mais tardiamente. É próprio de uma realidade de desigualdade que nós temos, relacionada a fenômenos econômicos e à própria extensão do país”.